FLUXO CRUZADO OU FLUXO EM CONTRACORRENTE
UMA COMPARAÇÃO DAS TENDÊNCIAS CONSTRUTIVAS
NORTE-AMERICANAS E EUROPÉIAS
Eng. Carlos Von Wieser
Torre de fluxo cruzado
(double cross- flow) construção
americana.
Como em muitos
outros campos, no da engenharia também estão presentes, no Brasil, por
contratos de licenciamento, as tendências específicas norte-americana, e europeias
na construção de torres de resfriamento de água.
Estas tendências
são consequência das condições singulares de mercado no seu respectivo país de
origem. Ao fundirem-se no Brasil, onde não há as mesmas condições de mercado, a
comparação e a avaliação entre as construções daí resultantes desorientam os
menos entendidos. A indicação compulsória de um ou outro tipo de construção em
especificações técnicas que nos chegam de fora, causam dúvidas quando, na
realidade, não há motivo para isto.
A controvérsia
maior, quando comparadas as construções americanas com as europeias, visa
essencialmente a avaliar a eventual superioridade de um ou outro tipo, entre o
de fluxo cruzado (“cross-flow”) que
chamaremos, simplificando, de “americano” e o de fluxo em contracorrente (“counter-flow”) que é a construção
tipicamente europeia.
Cabe analisar se
há ou não, para o mercado brasileiro, alguma vantagem de um dos sistemas sobre
outro.
A literatura
especializada fornece, em geral, em forma tabelar, indicações sobre as
vantagens e desvantagens de um sistema sobre o outro. As vantagens, via de
regra, compensam as desvantagens e o responsável pela escolha entre as
alternativas verá, finalmente, que as a decisão não deve ser tomada em função
do tipo de construção, mas sim da superioridade do projeto individual com o
qual se defronta, em termos de economia, seja ele baseado em corrente cruzada
ou contracorrente.
A entrada triunfal
da torre com fluxo cruzado nos EUA data de pouco antes da 2º Guerra Mundial. As
primeiras torres de resfriamento de água, ainda só com tiragem pelo vento
natural, foram construídas na Europa já antes da volta do século XX, nas
regiões de alta concentração industrial, onde cedo se reconheceu a necessidade
de reaproveitamento dos escassos recursos naturais das águas, como meio
refrigerante de processos industriais. As primeiras torres com tiragem mecânica
surgiram entre 1920 e 1930, com a descoberta da melhoria de alguns processos
industriais, na proporção em que era possível abaixar o nível das temperaturas
das águas resfriadas, em comparação com as temperaturas que poderiam ser
obtidas com torres com tiragem por convecção, ou com tiragem pelo vento
natural.
Tanto nos EUA,
como na Europa construía-se, até pouco antes da 2º Guerra Mundial, torres com
estruturas e demais componentes em madeira, no sistema contracorrente (“counter-flow”), com tiragem forçada
(insuflamento do ar) ou induzida (aspiração do ar). As torres com tiragem por
convecção eram quase que desconhecidas nos EUA, pois só algumas poucas e
pequenas regiões ofereciam o clima apropriado (alta umidade relativa do ar com
baixa temperatura média) para resultar, em termos econômicos, em temperaturas
de água fria suficientemente baixas para os condensadores tradicionais daqueles
anos.
Os EUA dispunham
no Californian Redwood de uma madeira
de elevada resistência mecânica, ligada a elevada resistência contra ataques de
microrganismos. Esta madeira parecia ter reservas inesgotáveis, era de baixo
custo e era comercializada em bitolas apropriadas e de ótima qualidade. Não
havia necessidade e, portanto, não havia interesse, na procura de outras
alternativas para materiais de construção de torres.
Na Europa era
preciso usar a madeira das coníferas escandinavas, com menor resistência a microrganismos,
portanto com maior custo de imunização, com menor resistências a microrganismos,
portanto com maior custo de imunização, com menor resistência mecânica e devido
ás longas distâncias de transporte, mais cara. As bitolas maiores eram mais
difíceis e de qualidade reduzida.
A madeira era, na
Europa, para o fim específico da construção de torres de resfriamento de água,
de custo mais elevado e de menor qualidade quando comparada com outras
alternativas que se ofereciam.
Grande parte das
regiões altamente industrializadas da Europa dependem de energia elétrica
gerada por centrais térmicas, com grande capacidade de condensação de vapor. O
aumento da capacidade dos blocos das centrais resultou em torres que tinham que
resfriar vazões de 30.000 até 45.000 m/h de água por unidade. Não havia
necessidade nem interesse de subdivisão em unidades multicelulares, para efeito
de elasticidade de operação, pois com a melhora das condições climáticas para
efeito de resfriamento (inverno) aumentava aproximadamente na mesma proporção,
a demanda (carga), proveniente do consumo de energia para efeito de calefação e
iluminação.
Torre de fluxo cruzado em
contra corrente, (counter-flow),
europeia multicellular.
Só torres com
tiragem induzida (aspiração), com o ventilador-exaustor colocado acima do plano
do sistema de distribuição da água quente, permitiam o aumento substancial do
diâmetro do ventilador, para acompanhar o crescimento das células individuais,
e para atender, dentro das condições do mercado europeu, as capacidades
unitárias sempre maiores.
Era difícil
controlar as cargas dinâmicas, provenientes do desbalanceamento, por corrosão
ou acidente, do rotor de um ventilador axial, com diâmetro acima de 10,0 m,
montado no alto de uma estrutura de madeira. As juntas entres os elementos estruturais
perdiam gradativamente a resistência inicial, aumentando as amplitudes das
oscilações dos ventiladores desbalanceados, quando o defeito não era prontamente
detectado. Este fenômeno resultou na tendência americana do uso de ventiladores
axiais de grande número de pás, com alta frequência e baixa amplitude das
pulsações, com diâmetro até 34 pés (10,2 m). As ligações entre os elementos
construtivos de madeira da estrutura, eram reforçadas com anéis especiais, e os
ventiladores eram equipados com chaves sentinelas de desligamento em excesso de
vibração, oscilação ou pulsação, limitando a velocidade periférica, por
tradição, em 60m/s (12.000 ft/min.).
O desenvolvimento
europeu para unidades maiores resultou, cedo, na aplicação do concreto-armado. Construtivamente
era mais fácil controlar as cargas dinâmicas dos ventiladores axiais de grande
porte, na parte superior. Assim, há unidades em serviços continuo há alguns
anos com ventiladores de 26,0m diâmetro. O número de pás por unidade e a
velocidade periférica são determinados unicamente em função do máximo
rendimento estático e/ou por motivos de ruído, mas não construídos para
suportarem velocidades periféricas até 90,0 m/seg.
As capacidades por
células nas torres antigas do tipo counter-flow,
americanas, eram portanto, limitadas às capacidades dos maiores ventiladores
axiais, que podiam ser instalados nas estruturas de madeira, sem problema de
segurança estrutural, a médio ou a longo prazo. O emprego de melhores tipos de
enchimento, ligados à maior velocidade do ar, traz, via de regra, um aumento da
capacidade da unidade, porém, acompanhado de aumento da perda de pressão
estática par o acionamento de água pela maior velocidade do ar, limitava, entretanto,
este recurso.
Quando surgiu
antes da 2º Guerra Mundial, nos EUA, a torre com tiragem cruzada (“double cross-flow”), ela foi
prontamente aceita e difundida, tão logo tinham caducadas as patentes. Isso por
que ela permitia a uma larga faixa de temperaturas operacionais, aumentar a
capacidade por célula, fruto de uma sensível redução na perda de pressão
estática, ainda que o volume de ar, para uma definida capacidade e condição de
operação, fosse maior, em comparação com a tiragem em contracorrente.
Paralelamente ao
uso do concreto para as estruturas de células grandes, substitui-se, na Europa,
a madeira por aços perfilados, protegidos contra a corrosão, para as estruturas
de unidades de tamanho médio, e por plástico reforçados com fibra de vidro para
unidades compactas de pequena capacidade.
Foram também
feitos grandes esforços na Europa para desenvolver sistemas de enchimento de
contato sempre mais eficientes, em substituição aos tradicionais enchimentos de
madeira, procurando-se tirar vantagem das características físicas dos novos
materiais (porosidade, maleabilidade).
Como a torre com
tiragem cruzada é essencialmente uma torre com enchimento do sistema de
gotejamento, para permitir grandes áreas de passagem de ar, portanto para baixa
velocidade do ar e baixa pressão estática, e como os materiais que poderiam
substituir a madeira neste sistema resultam em maior custo, devido às pequenas
distâncias necessárias entre apoios, mais uma vez não houve incentivo para o
renascimento da torre com tiragem em contracorrente no mercado competitivo
americano. Na realidade não faltaram tentativa de cano. Na realidade não
faltaram tentativas de emprego de plásticos e fibrocimento nas torres com
tiragem cruzada. Em unidades de grande capacidade o uso, entretanto, é raro.
Unidades pequenas, compactas, foram desenvolvidas com sucesso, porém,
acentuadamente com sistemas de contato por filme ou turbilhonado.
A redução no
consumo de energia elétrica para o acionamento dos ventiladores, em
consequência do menor produto de pressão estática x tiragem de ar, foi
compensada em unidades grandes com tiragem de ar, foi compensada em unidades
grandes com tiragem cruzada que, pelo acima exposto, usam o sistema de
enchimento de contato por gotejamento, com o aumento da altura geométrica de
bombeamento da água quente. Em unidades grandes é comum encontrar alturas de
15,0 m, quando no sistema contracorrente a altura normal é de 8,5 - 9,5 m,
também para unidades com ventiladores até 15,0m diâmetro. Conclui-se que a
questão do maior ou menor consumo de energia elétrica não depende do sistema de
ventilação (corrente cruzada ou contracorrente), mas sim, da eficiência do
desenho do enchimento de contato, em função da concentração do líquido sobre o
gás (ar), de projeto.
Assim,
esquematizamos em traços gerais, e na forma simplificada, os motivos pelos
quais na Europa a torre com tiragem cruzada não encontrou a mesma aceitação que
nos EUA, e porque este tipo de construção é o preferido, naquele país.
Um balanço entre a
diferença de construção dos dois tipos não deve justificar uma preferência na
escolha, uma vez que há diferenças de custo, de investimento global, de
operação e manutenção.
Como uma torre é
especificada para resfriar um determinado caudal de água quente, de uma
determinada temperatura de água quente para uma determinada temperatura de água
resfriada na incidência de pré-determinada temperatura de ar no bulbo-úmido, a
escolha entre os 2 sistemas deverá se basear:
·
no custo de
investimento global (incluindo o custo da área ocupada, das fundações e da obra
civil);
·
no custo operacional
(consumo de energia elétrica para acionamento de ventiladores e bombas e perdas
de água por arrastamento);
·
no provável custo de
manutenção, inclusive custo de tratamento de água e custo de manutenção,
inclusive custo de tratamento de água e custo do seguro contra fogo, e
·
na perspectiva de
longevidade dos materiais e equipamentos escolhidos na construção, para
determinação da taxa de amortização.
Torre
de fluxo em contra corrente (counter-flow), multicelulares, equipadas com
ventiladores de 25 m de diâmetro, acionadas por motores de 3,500 HP, construção
europeia.
É absolutamente
irrelevante se o melhor resultado é obtido com uma torre com tiragem em contracorrente
ou com uma tiragem cruzada.
A diferença na estética
arquitetônica, que tende ora para um ora para outro lado, é uma questão de gosto
e, portanto, subjetiva.
Como resultado da
maior complexidade de formas da torre com tiragem cruzada, via de regra, o
consumo de concreto por unidade e o custo por metro cúbico são maiores nestas
unidades, em comparação com a unidade de tiragem em contracorrente, nas mesmas
condições de funcionamento.
Considerando o
emprego de materiais e equipamentos iguais em qualidade e durabilidade, em um
ou outro sistema e, incluindo nestas considerações a eficiência do enchimento
de contato, já que esta define custos de investimento e operacional, só restam,
para considerações comparativas, o custo de manutenção e o custo de tratamento
de água, pois são os únicos pontos onde pode haver diferença de custo em função
do sistema de construção da ventilação corrente cruzada ou contracorrente. Novamente
vemos que a vantagem que um sistema oferece sobre o outro é compensada com uma
desvantagem no mesmo detalhe: a maior facilidade de acesso e inspeção dos
tanques distribuidores de água quente em torres com tiragem cruzada é anulada
pela exposição desta água quente aos raios solares, resultando em maior
estímulo para o crescimento de algas. Assim, é exigido maior cuidado, para
manter os bicos de irrigação desobstruídos, mediante a aplicação de doses mais
fortes de biocidas ou a limpeza mecânica.
Uma tônica
constante na literatura mundial especializada é a maior sensibilidade das
torres com tiragem cruzada contra a recirculação de ar úmido expelido pelos
ventiladores, essencialmente quando há ventos transversais e para baterias
multicelulares. Admite-se uma “quebra de produção” anual, em função da posição
da torre em relação aos ventos predominantes de 8 - 10%, com picos até 20%,
quando para torres de tiragem em com tiragem em contracorrente estes números
não devem passar da metade. Esta diminuição de capacidade poderá passar da
metade. Esta diminuição de capacidade poderá passar despercebida na ocasião de
teste de recebimento, quando há incidência de ventos favoráveis. Por outro
lado, deve o projetista da torre de tiragem cruzada incluir esta redução em
forma de uma reserva de capacidade no seu projeto, ou diminuir o efeito
mediante colocação de difusores altos passando este detalhe, então, a pesar no
custo de investimento global. Admite-se, na literatura, que uma maior ou menor
incidência de recirculação é inevitável, em todas as torres cujo ponto de saída
de ar úmido (topo do difusor) esteja a menos de 30 m sobre o nível da água
fria.
A vantagem
arquitetônica da silhueta baixa do resfriador compacto de tiragem cruzada, com
enchimento tipo filme ou turbilhonado, de pequena capacidade, é parcialmente
anulada pelo maior fator necessário para compensar a maior recirculação.
Resumindo, pode
ser observado para as condições brasileiras: Não é importante, assegurada a
igualdade de especificações de materiais e equipamentos, em termos de qualidade
e durabilidade, que uma torre de resfriamento de água execute o trabalho a que
se destina no princípio de construção norte-americano ou seja, no sistema de
tiragem cruzada (single ou double
cross-flow) ou no sistema europeu (contracorrente). O importante é, para
iguais condições de capacidade, o custo de investimento global acima definido,
é o custo de operação, é o custo de manutenção e, ainda, para efeito do custo
de amortização, é a sua longevidade.
Resfriadores
compactos de fiberglass, sistema
contracorrente.